Durante os primeiros anos da ditadura, jovens frades
seguidores de São Domingos desempenharam papel importante na resistência às
forças armadas. Deram cobertura à Ação Libertadora Nacional (ALN), grupo
guerrilheiro comandado por Carlos Marighella – ex-deputado federal e um dos
principais opositores do governo. Os frades defendiam que viver o evangelho era
integrar-se à comunidade através de práticas sociais concretas, que defendessem
os injustiçados. Pagaram alto preço: perseguição, cadeia, tortura e exílio.
Em 1969, os freis Ivo e Fernando foram os primeiros
dominicanos a cair. Capturados pela polícia e submetidos a fortes torturas,
acabaram forçados a servir de isca e marcar um encontro com Marighella. A
emboscada revelou-se um sucesso: após troca de tiros, morreu o líder da ALN.
Frei Tito, então com 24 anos, foi o próximo dominicano
colocado atrás das grades, capturado no próprio convento dos dominicanos. Cinco
dias depois, frei Betto – hoje conselheiro pessoal do presidente Lula – também
foi preso. Estava escondido no Rio Grande do Sul, ajudando opositores do
governo a fugirem do país pela fronteira.
Dentre todos esses religiosos, é a história de frei Tito que
o filme aborda com mais profundidade. Durante 42 dias, ele foi submetido ao
pau-de-arara, a choques elétricos nos ouvidos e genitais, a socos, pauladas,
palmatórias e queimaduras de cigarro, entre outras perversidades. Em certa
ocasião, foi lhe ordenado que abrisse a boca para receber a “hóstia sagrada”
(dois eletrodos com corrente elétrica). Teve a boca queimada a ponto de não
conseguir falar. Tentou suicídio nessa época, cortando-se com uma gilete. Os
militares, no entanto, o mantiveram vivo e sob tortura psicológica.
Em dezembro de 1970, Tito foi incluído na lista de presos
políticos trocados por um embaixador suíço seqüestrado. Partiu para o exílio,
passando pelo Chile e pela Itália antes de se estabelecer definitivamente na
França. Do Brasil, contudo, Tito não saiu sozinho. Levou consigo a lembrança
obsessiva do delegado Sérgio Paranhos Fleury, seu principal algoz nos porões
ditadura.
Alucinava o espectro de seu torturador e sentia sua presença
entre as árvores do convento de La Tourette – onde passou a viver. O delegado
lhe dava ordens: não entrar, não deitar, não comer… Tito oscilava entre resistir
e obedecer. Em 1974, atormentado por essa realidade, o frade enforcou-se em uma
árvore nos arredores do convento.